Lançado em setembro de 2000, The Teaches of Peaches marcou a chegada de Merrill Nisker ao mundo sob o nome que se tornaria sinônimo de provocação, ironia e reinvenção: Peaches. Vinda de Toronto e já com um passado ligado ao teatro experimental e à música alternativa, ela encontrou em Berlim o terreno fértil para a explosão de uma estética que unia batidas eletrônicas cruas, letras afiadas e uma performance pensada para chocar e libertar.
Hoje, olhando para trás, o disco não soa apenas como um produto do seu tempo, mas como um ponto de ruptura. No ano 2000, o pop vivia a era das divas teen e do nu metal nos Estados Unidos, enquanto na Europa se consolidava uma cena eletrônica de clubes. Peaches entrou nesse cenário como um corpo estranho, misturando electro minimalista com guitarras pontuais e um vocal quase falado, carregado de humor ácido e sexualidade sem filtros.
Peaches nunca se escondeu atrás de metáforas: suas letras falam diretamente sobre prazer, corpo, desejo e poder. Faixas como “Fuck the Pain Away” não apenas desafiaram padrões conservadores, mas se tornaram hinos queer em pistas de dança, ao lado de “Set It Off”, onde a repetição quase hipnótica da frase central cria uma atmosfera de catarse.
A produção, minimalista ao extremo, reforça a ideia de que a força do disco está no conteúdo performático e na atitude. São batidas simples, linhas de sintetizador repetitivas e arranjos secos, mas sempre conduzidos pela presença vocal de Peaches, que transita entre o deboche, a agressividade e a sensualidade.
Entre o underground e o mainstream
Apesar de nascer no underground, The Teaches of Peaches encontrou seu caminho para além das fronteiras dos clubes alternativos. Parte disso se deve à estética electroclash, movimento que, no início dos anos 2000, reuniu nomes como Miss Kittin, Fischerspooner e Chicks on Speed. Mas também ao fato de que Peaches oferecia algo mais do que música para dançar: havia ali um discurso de empoderamento que inspirou artistas posteriores, de M.I.A. a Lady Gaga.
É curioso notar como um disco que parecia tão “anti-pop” acabou dialogando com o próprio pop. Madonna convidou Peaches para abrir shows, Pink e Christina Aguilera já a citaram como referência, e até Iggy Pop se rendeu, colaborando com ela em trabalhos posteriores.
25 anos depois
O tempo só reforçou a relevância de The Teaches of Peaches. Suas músicas ainda circulam em playlists e festas, mas o mais importante é como seu espírito permanece atual. A discussão sobre gênero, corpo e liberdade sexual, que em 2000 ainda era marginalizada, hoje ocupa espaços centrais na cultura pop — e Peaches foi uma das vozes que empurraram essas barreiras.
Ouvir o disco em 2025 é revisitar uma obra radical, crua e honesta, que fez da provocação uma ferramenta política e estética. Mais do que um marco do electroclash, The Teaches of Peaches é um lembrete de que a música pode ser um lugar de experimentação e de desafio às normas.



